São exemplos de como alegrias e tristezas - que podem ser superadas - acompanham a trajetória das famílias que por anos lutaram por um pedaço de terra junto às autoridades e ao Incra.
Os que precisam e gostam da terra são os que a merecem.
Lote 50, do assentamento Nova São Carlos, sob a titularidade do Sr. Roberto Chaves Gonçalves, o Canivete
A primeira preocupação : a água
O Canivete é um assentado bem ativo. Depois de construir a sua casa provisória - um barraco até grandinho - , uma de suas primeiras iniciativas foi construir um elevado próximo à estrada para instalar duas grandes caixas d`água. É que os assentamentos geralmente são feitos meio às pressas pelo Incra e outros órgãos públicos. A água encanada, até abril de 2013, após 3 anos, ainda não chegou. Então, a única
saída é o novo assentado depender da água do caminhão pipa da prefeitura de São Carlos. Pelo menos, nos primeiros anos, têm-se água para os afazeres da casa e para alguns animais e poucas plantas. Muitas famílias, principalmente no tempo sem chuva, são obrigadas a buscarem água em seus veículos ou até mesmo em carroças. Alguns tentam abrir um poço ou cisterna. Alguns poucos, que moram próximos do córrego, chegam a instalar bombas provisórias. Mas, este não é o caso do Sr. Roberto e da grande maioria.
Seria melhor : água e energia desde o início
Os órgãos relacionados à energia e à água dizem que não há verbas suficientes para a instalação imediata de eletrificação, captação de água e distribuição. Os assentados são até bem tolerantes com a demora. Porém, deveriam ser mais rapidamente atendidos em suas necessidades, pois, além de um problema habitacional, os assentados deveriam ser mais considerados como fazendo parte do grupo dos pequenos produtores rurais, que atendem boa parte da demanda de alimentos pelos que moram nas cidades.
Esforço e produção
O Sr. Roberto cria umas 20 cabeças de porcos. Eles são bem tratados, pois há uma grande plantação de milho na propriedade. |
As dificuldades iniciais são muitas. Nos primeiros dias que as famílias se mudam para o lote definitivo, não há muita diferença dos acampamentos onde moravam. Mas, continuam firmes, animados, decididos, cheios de bons planos. Alguns, por falta de estrutura, e não de vontade, desistem ou demoram mais tempo para realmente morarem na terra e fazerem-na produzir. Isto é, até certo ponto, compreensível, pois o êxodo rural do século XX viciou as pessoas nas comodidades das cidades e aos que gostavam de trabalhos rurais, ensinou-lhes apenas as tarefas da monocultura, como as colheitas de cana e laranja. A maioria gosta da terra e deseja morar nela, mas precisam ter um tempo para se reacostumarem. Enquanto isso, o apoio do poder público é fundamental para receberem estímulos para a produção, tais como cursos de capacitação e facilidades de escoamento da produção rural. Felizmente, isto está sendo feito parcialmente pelo Incra e outros órgãos públicos.
Salienta-se o esforço do amigo Canivete para investir em seu lote : há dois anos gastou o equivalente a mais de 20 mil reais para pagar trator esteira que arrancou grande parte dos tocos de eucalipto, onde agora plantou sua boa roça de milho.
Salienta-se o esforço do amigo Canivete para investir em seu lote : há dois anos gastou o equivalente a mais de 20 mil reais para pagar trator esteira que arrancou grande parte dos tocos de eucalipto, onde agora plantou sua boa roça de milho.
Terra para todos
No entanto, a sociedade e os poderes constituidos devem respeitar as liberdades individuais. As famílias e as pessoas são diferentes umas das outras. Umas são super ativas na roça, outras não conseguem lavrar muita terra. Umas tem maiores ambições materiais e trabalham muito para conseguirem ganhar mais
dinheiro. Outras, são menos ambiciosas materialmente e não precisam de tanta terra para subsistirem. Tanto as mais produtivas, como as poucas produtivas tem o sagrado direito de morarem na terra e da terra tirarem pelo menos o seu sustento. O erro está no modelo atual de reforma agrária, que uniformaliza a todoscomo sendo produtores rurais para manterem as cidades abastecidas de bons e baratos alimentos. Sabemos que é difícil, mas o Incra deveria criar assentamentos sub-divididos em lotes maiores, médios e menores. Para quê três alqueires destinados a uma pessoa sozinha, por exemplo ? No entanto, famílias grandes ou mais ativas, se se comprometerem a tocar um lote médio ou maior, deverão cumprir o seu contrato.
O Incra e a implantação do assentamento
Foto de uma parte do milharal de mais de um alqueire. O milho, em abril, já está no ponto de colheita. O Roberto vai abastecer o seu paiol e ainda irá vender muito milho !! |
Embora o Incra faça várias reuniões dias antes das famílias se mudarem para os lotes, parece que falta algo no sentido de serem mais bem orientadas e apoiadas em relação às potencialidades da terra e de cada família, bem como dos compromissos que devem assumir quando são temporariamente consideradas guardiãs da terra. Tudo bem. Alguns erram e isso é normal em qualquer agregação humana, inclusive, muitas vezes, por falta da devida orientação antecipada ou por falta de mais controle por parte do Incra. O importante é que, se o poder público cumprir adequadamente a sua parte, as famílias dos assentados responderão positivamente, realizando em suas propriedades, e em suas vidas, o que pode ser considerado um modelo para novas formas de sociedades humanas sustentáveis.
O Roberto e outros colaboradores eventuais são exemplos de bons assentados e merecem a terra onde vivem !!
Redigido e editado por Luiz, em 21/abril/2013
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