Oficina simulando uma transmissão da Rádio Monte Alegre FM |
No sábado, 17 de agosto de 2013, a comunidade do assentamento Monte Alegre pré inaugurou a sua muito próxima rádio comunitária Monte Alegre - Rádio da Terra, com a presença do vereador de Araraquara Édio e sua ativa assessora Silvia, além de uma equipe composta por 8 integrantes da Rádio Ufscar de São Carlos. Outros ativistas da área de comunicação também estiveram prestando o seu apoio e trocando experiências, como o Teddy e a Sandra da Teia de São Carlos, Carol e Baroni da Sustenta Colmeia de Araraquara, o Mateus, a Patrícia e o Raphael, administrador, cientista social e jornalista (respectivamente) de Araraquara, a Ana Maria, amiga da Colômbia e o Ricardo da rádio Livre Capivara, também da Ufscar.
Na parte da manhã, os preparativos para a oficina |
Esta conquista foi o resultado do esforço de toda a comunidade de assentados do Monte Alegre e da agrovila Monte Alegre, coordenados por alguns dos seus líderes sociais : o Nadércio, o João Paulino (Pinguim), o José Aparecido (Negão), e outros. Vários do assentamento participaram da oficina que apresentou os equipamentos já comprados (mesa de som, etc...), sendo estes os primeiros portadores de dons para comunicação que irão produzir os primeiros programas e as montagens da antena, do transmissor e de uma futura rádio na Web. Além dos citados acima, os presentes no evento foram a Sra. Benedita, o Sr. Sebastião, o Laerte, o Wellington, a Andreza, o Valdinei, a Dayane e a Monica, além das dedicadas cozinheiras e de outros que não pudemos anotar os nomes.
A equipe de apoio da Rádio Ufscar faz as primeiras adaptações na mesa de som da futura rádio |
No período da manhã, foi realizada uma rodada de apresentação, cada um dizendo seu nome, de onde veio, no que pode colaborar para o sucesso da rádio, - que se chamará "Rádio Monte Alegre FM" ou "Rádio da Terra Monte Alegre" - e suas expectativas quanto às possibilidades de formação da rádio. Logo em seguida, foi feita uma programação da oficina a ser realizada no período da tarde, coordenada pela Fernanda, com experiência na área e pela Silvia. Todos participaram com muito entusiasmo.
Após um delicioso almoço, em clima de muita amizade entre os participantes (sorrisos para todos os lados !!), iniciou-se à tarde a oficina de operação da Rádio Monte Alegre, com a apresentação ao vivo de alguns programas. A montagem provisória da mesa de som (este é o equipamento que recebe as
várias entradas de áudio, como microfone, toca cd e disco, celular, computador, trabalha estes sons e envia para uma saída estéreo que vai para o transmissor) foi executada pelo Ricardo, o coordenador geral da rádio Ufscar e apoiadores da comunidade. Enquanto estavam sendo filmados pela amiga colombiana Ana Marta e fotografados pelo editor deste blog, as equipes animadoramente comemoravam o belíssimo som produzido, com entrevistas e simulação de programas diversos, como o de receitas caseiras, o de música sertaneja, o de música evangélica, e outros.
Do lado de fora do estúdio, os mais de 20 participantes ouvem entusiasticamente os programas simulados da rádio. |
Ao término, uma foto dos participantes neste memorável evento !! |
Parabéns aos incansáveis lutadores que conseguiram estágio tão avançado para a concessão de uma rádio comunitária, a todos os da comunidade e aos amigos e amigas apoiadores !!
Ao fundo, Ana Maria, que está preparando uma produção em vídeo para ficar na história da Rádio Monte Alegre |
Segunda parte
Seguem algumas propostas, orientações e observações a serem analisadas pela diretoria da Rádio Monte Alegre e pela comunidade :
Uma foto final de todos os participantes !! |
- Mobilizar mais pessoas do assentamento e região a ser abrangida pelas ondas da Rádio Monte Alegre para estarem colaborando com a implantação da rádio e com o crescimento do número dos programas oferecidos.
- Os programadores e operadores da rádio participarem de cursos no SENAC de Araraquara, de sonoplastia e produção de áudio. A intermediadora destes cursos é a Silvia, assessora do vereador Édio, além de participarem, também, de oficinas de produção de áudio, e outras, que serão ministradas em São Carlos pela ONG TEIA. O responsável é o Teddy
- Um grupo regional de interessados em comunicação democrática está sendo formado para que todos troquem experiências, conhecimentos e prestem apoio financeiro entre si. Este grupo irá interagir através de um blog, um grupo e outras ferramentas da Web e de comunicação.
- Logo após a compra do transmissor de 25Watts, que tem de ser homologado pelo Dentel, que os instaladores consigam ou comprem (pela internet, entre R$70,00 e R$200,00) um medidor de estacionária e potência para garantir o máximo desempenho do transmissor, bem como evitar a sua queima.
- A Rádio Monte Alegre pode começar a dar os seus primeiros passos, de imediato, montando o seu estúdio de transmissão via Web. Desta forma, estarão treinando seus colaboradores na criação e desenvolvimento de programas, além de já se integrarem a este moderno e livre meio de informação e comunicação. Outra grande vantagem da transmissão pela Web é que os ouvintes poderão curtir a sua rádio Monte Alegre de qualquer cidade da região e mesmo de cidades longes para onde viajarem.
- Projetos de desenvolvimento rural e de qualidade de vida, agora já podem ser implementados com grande facilidade, devido à enorme potencialidade da rádio em transmitir informações e conteúdos educativos. Um dos inúmeros exemplos é a criação de um Banco Solidário, com moeda própria ou um Banco de Produtos e Serviços que intermedia créditos e débitos virtuais através de um sistema de informação.
- Como no assentamento há dificuldade de sinal das operadoras de celular, convém instalar uma antena de alto ganho para um ou dois celulares do estúdio. Estes celulares devem ser das operadoras de melhor sinal, Vivo e Claro (confirmar). Isto é muito importante, pois esta rádio, sendo comunitária, deve, em todos os seus programas, estabelecer um meio de interação facilitada com os ouvintes.
- Através da conexão de internet para a transmissão via Web, a rádio também poderá ter um blog e um grupo para divulgar seus programas e atividades, bem como ser mais um meio de interagir com a comunidade ouvinte.
- Uma terceira forma de interação com a comunidade, sendo esta gratuita, é o fomento e a instalação de rádios comunicadores faixa cidadão - PX. Uma estação homologada (é fácil) seria instalada no estúdio da rádio, que se comunicaria com os Px assentados, promovendo interessantes participações com a comunidade. Como os rádios PX estão em pouco uso atualmente, é muito provável que se encontrem estações completas por R$100,00 a R$200,00 !!
- É possível, inicialmente, a montagem do estúdio de transmissão via Web na cidade, em parceria com vários coletivos que teriam o máximo interesse. Futuramente, os programas feitos para a Web poderiam ser enviados para o transmissor do assentamento através de um link (frequência que apenas liga um ponto a outro).
- Interagir com outras rádios comunitárias do Brasil, principalmente as que se relacionarem à Reforma Agrária, para trocarem interessantes programas gravados que podem ser retransmitidos.
- Instalar no estúdio uma televisão e um bom rádio (com antena externa) de ondas médias e curtas para que os locutores e programadores possam se informar das notícias e eventos que estão ocorrendo no Brasil e no mundo e, desta forma, enriqueçam os conteúdos transmitidos aos ouvintes. Alguns programas interessantes de outras rádios, como cursos e eventos significativos, podem ser retransmitidos pela rádio Monte Alegre FM - "a rádio da terra" !!
- Que os programas sejam produzidos e apresentados pelos próprios moradores do assentamento, a fim de não desconfigurar a sua característica de rádio comunitária. Quando muito, auxílio voluntário de programadores e locutores de cidades vizinhas podem ser aceitos, desde que os conteúdos dos seus programas sejam do interesse da MAIORIA dos assentados.
Terceira parte
Observações quanto à lei federal que regulamenta as rádios comunitárias :
Está se tornando mais clara a compreensão de que existem várias contradições na lei atual que regulamenta a concessão e operação das rádios comunitárias. A lei 4117 é antiga, de 1962, com pequenas modificações em 1998, através da lei 9.612. Verificou-se, nos debates, que esta lei precisa urgentemente corrigir suas contradições, modernizar-se para adequar-se às atuais exigências dos bairros e comunidades em desenvolvimento nesta era de inovadores meios de comunicação, bem como ao pleno direto à livre expressão, garantido pela Constituição Federal.
Duas contradições da lei :
A lei 9.612, de 1998, diz lindamente dos objetivos das rádios comunitárias como veículos de expressão cultural de bairros e comunidades, porém designa apenas uma frequência para cada cidade. Como, pois, em cidades médias e maiores, poderá cada associação de bairro, outras associações e fundações terem, cada uma, a sua rádio na mesma frequência ? Impossível. No caso de Araraquara, se a concessão vier para a associações dos moradores do assentamento Monte Alegre, não poderão futuramente existir outras rádios comunitárias na cidade e na área rural. Isso é um absurdo amparado por uma lei absurda.
Indicações de leitura : Comentários sobre a lei 9.612/98, pelo advogado e professor Dr. Wilson Paganelli
e : Lei sobre rádios comunitárias completa 15 anos em fevereiro de 2013 (com outros links)
A segunda contradição é a restrição do raio de alcance para o máximo de 1 Km, sendo a potência permitida de até 25 Watts. Ora, basta um transmissorzinho de 1 W instalado em região geográfica alta para cobrir dezenas de quilômetros. Seria impossível um transmissor de 5, 10 ou 25 Watts restringir a sua área de abrangência a parcos 1.000 metros. Por outro lado, há duas questões reais : Para rádios de cidades pequenas, que poderiam transmitir também para a zona rural, 25 Watts é pouco e para cidades médias e maiores, 25 Watts é muito. As cidades médias necessitam de associações entre futuras rádios comunitárias (pois a lei atual não permite existir mais que uma) que criem uma ética no sentido de restringirem, elas mesmas, a potência de transmissão a bem de possibilitar um número grandes de rádios nas cidades. As potências, tecnicamente possíveis para abrangerem bairros e pequenas regiões de cidades médias variam entre 300 mili-Watts a, no máximo, 5 Watts. A ABRAÇO - Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, certamente aprovará estas sugestões e as enriquecerá.
Veja comentário, transformado em artigo, com uma foto do encontro no assentamento Monte Alegre, que contesta as posições da ABERT - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão - em relação à sua reação às recentes normas para as rádios comunitárias.
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